Introdução IX, X e XI - Conclusão
Vamos à conclusão do estudo desta semana? Leila, obrigado mais uma vez por sua participação. Sua resposta adequada aos itens me permite algumas digressões, como, aliás, é o meu hábito e nos permite a natureza de estudo livre, conforme é nossa proposta atual.
1. A primeira argumentação dos contraditores da Doutrina com relação à mediunidade, é que esses fenômenos seriam fruto ou de charlatanismo ou de ilusão. Como Kardec descarta essas duas hipóteses?
Bom, Kardec reconhece que pode haver charlatanismo e ilusão por parte, claro, dos interesseiros, mas não entre médiuns sérios e desinteressados. Em O Que é o Espiritismo (Cap. 2, itens 89 a 92), Kardec afirma que: "...Se a tentação do lucro pode excitar à fraude, o bom senso diz que o charlatanismo não se mostra onde nada tem a ganhar." Segundo ele, a melhor garantia que podemos ter para não sermos enganados está no desinteresse absoluto e na probidade do médium; e conclui "há pessoas que, por sua posição e caráter, estão acima de qualquer suspeita."
Assim, comecemos a desconfiar quando o trabalho do médium visa a lucro material: suas obras são revertidas para onde? Para a caridade ou para sua própria conta bancária? Ah, mas o médium tem que viver também... Sim, para isso Deus nos deu o trabalho honesto e remunerado para não ferirmos o "dai de graça o que de graça recebestes!"
Aliás, temos visto alguns "portais espíritas" na internet que são uma verdadeira fábrica de dinheiro. Vendem tantas coisas, que mais parecem um moderno Templo de Salomão com os vendilhões à cata das "demais coisas", quando o Reino de Deus e sua justiça ficam para...quem sabe...uma próxima reencarnação.
Nesta semana vi um desses portais e fiquei abismado: eles estavam vendendo as Obras Básicas em pdf, essas que são baixadas gratuitamente em tudo quanto é lugar. Daqui a pouco, para acessar esses "sites espíritas", vamos precisar de estar com o cartão de crédito nas mãos.
Para citar um exemplo de médium desinteressado: no livro Seara dos Médiuns, pág. 107, Emmanuel chama Paulo de Tarso de "o médium inesquecível". No seu trabalho de divulgador da Boa Nova de Jesus, Paulo se mantinha com o seu trabalho no tear, preparando tapetes de lã e tecidos de pêlo caprino (Paulo e Estêvão, pág.304).
As recomendações finais de Kardec, em O Que é o Espiritismo, são por demais interessantes para não serem incluídas aqui na íntegra:
"Entre os adeptos do Espiritismo, encontram-se entusiastas e exaltados, como em todas as coisas; são, em geral, os piores propagadores, porque a facilidade com que, sem exame, aceitam tudo, desperta desconfiança.
O espírita esclarecido repele esse entusiasmo cego, observa com frieza e calma, e, assim, evita ser vítima de ilusões e mistificações. À parte toda a questão de boa-fé, o observador novato deve, antes de tudo, atender à gravidade do caráter daqueles a quem se dirige."
Traduzindo em termos que conhecemos: só é enganado quem quer, quem não quer submeter as comunicações ao crivo da razão, da mais pura lógica. Ah, mas os Espíritos comunicantes não vão se sentir "ofendidos" com nossa análise? Sim, se forem inferiores e embusteiros. Os Espíritos esclarecidos e benévolos compreendem a necessidade dos cuidados para não sermos enganados. Mais uma vez colocamos a afirmação de Erasto, em O Livro dos Médiuns: será melhor repelir nove verdades a aceitar uma mentira...
2. Outra oposição que se faz à Doutrina Espírita é que a linguagem de muitos Espíritos não seria digna da atribuída a seres sobrenaturais. Qual a refutação apresentada por Kardec?
Peço permissão à Leila para repetir aqui a sua resposta:
"A objeção feita quanto à linguagem dos espíritos era feita por pessoas sérias e, muitas vezes, ligadas à Doutrina. Esqueciam-se de que os desencarnados, assim com os encarnados, nao são iguais em conhecimento e em qualidades. Essas qualidades e conhecimentos se revelam no linguajar, nas palavras e na maneira de se expressar. Deve-se portanto analisar as comunicações recebidas para que possamos separar as de bom conteúdo daquelas que nao o são."
E acrescentamos apenas uma observação de Emmanuel, citada por Martins Peralva, na obra Mediunidade, pág. 81: "Identifica o mensageiro, encarnado ou desencarnado, pela mensagem que te dê, mas, se é justo que lhe afiras a cultura, é imprescindível anotes a orientação que está dentro dela". Fica clara, assim, a necessidade de analisarmos não só a linguagem, mas também o conteúdo.
Agindo assim, não seremos alvos de falsificações grosseiras, de charlatanismo ou de ilusão...
3. Existia (e ainda persiste) a idéia de que os espíritos comunicantes não são outra figura que não a do demônio. Como Kardec responde?
Kardec faz um aprofundamento do tema no livro O Céu e o Inferno (1ª Parte, Cap. X), de onde extraímos alguns tópicos:
"As doutrinas sobre o demônio, prevalecendo por tanto tempo, haviam de tal maneira exagerado o seu poder, que fizeram, por assim dizer, esquecer Deus; por toda parte surgia o dedo de Satanás, bastando para tanto que o fato observado ultrapassasse os limites do poder humano."
"Dar aos anjos maus o monopólio da tentação, com poderes amplos de simular o bem para melhor seduzir; e vedando ao mesmo tempo toda e qualquer intervenção dos bons, é atribuir a Deus o intuito inconcebível de agravar a fraqueza, a inexperiência e a boa-fé dos homens."
"Quem mais estará nas garras do demônio do que aquele que de Deus blasfema, atido ao vício e à desordem das paixões? Esse não estará no caminho do inferno? Mas então como compreender que a uma tal presa esse demônio exorte a rogar a Deus, a submeter-se à sua vontade, a renunciar ao mal? "
"Jamais se viu negociante realçar aos seus fregueses a mercadoria do vizinho em detrimento da sua, aconselhando-os a ir à casa dele (...) É este, no entanto, o papel estúpido do demônio, pois é notório - e é um fato - que as instruções emanadas do mundo invisível têm regenerado incrédulos e ateus, insuflando-lhes n'alma fervor e crenças nunca havidos.
"(...) havemos de concluir, ou que o demônio é um desazado de primeira ordem, ou que não é tão astuto e mau como se pretende, e, conseguintemente, tão temível quanto dizem; ou, então, que todas as manifestações não partem dele."
"Outra não era a linguagem dos fariseus relativamente ao Cristo, que, diziam, fazia o bem por artes do diabo! E o Nazareno respondeu-lhes: "Reconhecei a árvore por seu fruto: a má árvore não pode dar bons frutos."
Agora um comentário particular: a acusação de que as comunicações espíritas são oriundas do diabo serve muito bem ao propósito de assustar as pessoas ingênuas, que morrem de medo do "maligno". Aliás, o medo do diabo serve muito bem para manter as pessoas nas igrejas, tanto que em muitos templos o nome do "diabo" é mais citado que o de Deus. Agora, e se subíssemos ao púlpito dessas igrejas e disséssemos que o diabo não existe, que é um mito, que os Espíritos nada mais são que os próprios homens desvestidos da carne? Talvez fôssemos vaiados (claro, não estamos convidando ninguém a um ato desses: é só um exercício de imaginação) e, se fossem bem educados, os "fiéis" iam nos pedir que os deixássemos com o seu medo do "padeiro do inferno". Ah, eles iriam pensar: hhhuuummm, é o diabo que está dizendo que o diabo não existe... vade retro...
Muita paz a todos!