sábado, abril 01, 2006

Conhecimento do Princípio das Coisas (q. 17 a 20) - Conclusão

Olá a todos,

Vamos à conclusão do estudo da semana?
1. O que se pode entender por princípio das coisas?

Princípio das coisas significa a origem de tudo, isto é, como tudo começou. Vejamos o que Kardec escreveu sobre o princípio das coisas, no item 11, da primeira parte de Obras Póstumas: “O princípio das coisas reside nos arcanos de Deus. Tudo diz que Deus é o autor de todas as coisas, mas como e quando as criou ele? A matéria existe, como ele, de toda a eternidade? Ignoramo-lo. Acerca de tudo o que ele não julgou conveniente revelar-nos, apenas se podem erguer sistemas mais ou menos prováveis. Dos efeitos que observamos, podemos remontar a algumas causas. Há, porém, um limite que não nos é possível transpor. Querer ir além é, simultaneamente, perder tempo e cair em erro.”

A respeito desse trecho, a Sônia Costa propôs a seguinte questão: “Não haverá um tom conformista, dogmático se aceitarmos simplesmente que ‘o princípio das coisas reside nos arcanos de Deus?’”
Sônia, talvez a afirmação de Kardec deva ser tomada em seu caráter relativo ao estágio intelecto-espiritual em que nos encontramos agora. Ele não escrevia para Espíritos Puros, já plenamente evoluídos, mas se dirigia ao Espírito mediano, que vislumbra a luz, mas que ainda vagueia pela sombra. Para os primeiros, com certeza, o entendimento da obra de Deus é muito maior, sendo possível o vislumbre de como tudo o que existe passou a realmente existir. Para os medianos - por quê não dizer?-, para nós mesmos, a afirmação de Kardec não poderia ser mais verdadeira. Será que conseguiremos, no estágio atual, desvendar o princípio das coisas?
Em vez de conformismo, eu usaria resignação ativa. Em vez de dogmático, talvez prudência. Há quantos ateus que duvidam simplesmente porque não conseguiram ver a Divindade? Há quantos loucos que se perderam diante da idéia fixa de arranjar uma explicação para tudo o que há?

Resignação ativa (não conformismo) é ter postura de humildade diante do que não conhecemos e aceitar esse fato trabalhando para alargar a própria compreensão da vida. Lembremo-nos que Sócrates foi considerado pelo oráculo de Delfos como sendo o maior sábio da Grécia, simplesmente porque tinha humildade de reconhecer que nada sabia.

Ser prudente é possuir a qualidade de saber ouvir, de saber esperar, de saber refletir antes de tomar as decisões. A prudência recomenda (e os Espíritos Superiores também) que em vez de buscar o princípio das coisas, devemos nos concentrar em nos aperfeiçoar intelectual e moralmente. Em primeiro lugar, é preciso buscar o reino de Deus e sua justiça, isto é, conhecer e praticar as Leis de Deus, que as demais coisas nos serão acrescentadas, inclusive o conhecimento da Verdade, que nos libertará dos grilhões do sofrimento.

2. Qual o papel da Ciência para desvendar o princípio das coisas?
Na questão 19 de O Livro dos Espíritos, Os nossos Instrutores maiores nos afirmam que a Ciência “foi dada (ao homem) para seu adiantamento em todas as coisas”, isto é, ela se constitui em ferramenta valiosa para a nossa busca da Verdade.

O papel da Ciência, portanto, é oferecer meios para que a humanidade chegue gradualmente a compreender o Universo em que vive.

3. O que é revelação? O Espiritismo pode ser considerado uma revelação de Deus?

Kardec nos oferece a resposta no primeiro capítulo da obra A Gênese. Ele começa por definir o que seja revelação: “Revelar, do latim revelare, cuja raiz, velum, véu, significa literalmente sair de sob o véu — e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer idéia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos.”

Nessa perspectiva, o Espiritismo pode ser considerado uma revelação? Deixemos também aqui a resposta por conta de Kardec: “O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação, na acepção científica da palavra.

Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica. Participa da primeira, porque foi providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa, nem de um desígnio premeditado do homem; porque os pontos fundamentais da doutrina provêm do ensino que deram os Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa conhecer, hoje que estão aptos a compreendê-las.

Participa da segunda, por não ser esse ensino privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por não serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivos, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa, por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-arbítrio; porque não lhes é interdito o exame, mas, ao contrário, recomendado; enfim, porque a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e aplicações.”

4. Explique a seguinte afirmação de Kardec: "o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem."
A frase, que consta do item 13, do primeiro capítulo de A Gênese, significa que a Verdade não foi oferecida pronta e acabada para o homem, mas que este, por seu esforço e dedicação, deve alcançá-la pouco a pouco. Quem quiser confirmar esse caráter progressivo do acesso à Verdade leia a questão de número 628 de O Livro dos Espíritos e medite sobre as palavras de Jesus: “Batei e abrir-se-vos-á” e “encontrareis a Verdade e a Verdade vos libertará”.

Outro aspecto importante da afirmação de Kardec é o duplo aspecto da revelação espírita: a origem divina e iniciativa dos Espíritos, por um lado; e a elaboração do homem, por outro. Os que vêem na Doutrina Espírita um “passaporte” pronto para a “iluminação” correm o risco de se decepcionarem. A simples leitura das Obras Básicas e das complementares não garante “privilégios”, que, aliás, não existem no Espiritismo.

O fruto do trabalho do homem é o de desenvolver o farto material à disposição, ler, refletir e aplicar na sua própria vida. Deixar de achar que as mensagens espíritas se destinam aos que nos impedem a marcha rumo à felicidade. Se nos incomodamos com as pessoas, a culpa não será delas, mas nossa mesmo. Algo em nós não está bem resolvido. Remédio? Refletir sobre nós mesmos, não com postura egocêntrica, achando que tudo deve se dobrar diante da nossa presença, mas sabendo nos colocar na engrenagem cósmica, reconhecer nosso papel, nossa tarefa de auto-iluminação, moldar a rocha bruta e talhar a estátua perfeita do homem integral, o homem de bem. Enfim, cumprir a advertência do “sede perfeitos” que Jesus nos endereçou.

Muita paz!

1 Comments:

Blogger Marina Lima said...

Olá amigo. Primeiramente quero agradecer pelo excelente estudo e explicações claras sobre o tema. E continuando o assunto, concordo que devemos nos resignar e contentar com o conhecimento que nos foi dado e buscar antes trabalhar o espírito à mente, pois como o próprio mestre Jesus nos instruiu: Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.” (Mt 6, 33)
Que Deus o abençoe!

11:50 PM  

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