sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Introdução XII a XV - Conclusão

Olá a todos,

Encerrando mais um tópico de nosso estudo, vamos comentar as questões propostas:

1. Cite os indícios por meio dos quais se pode atestar da identidade dos Espíritos.

Kardec, no Cap. XXIV de O Livro dos Médiuns (item 255), afirma que a questão da identidade dos Espíritos, nas comunicações, depois da obsessão, é uma das maiores dificuldades do Espiritismo prático. Em O Que é o Espiritismo (item 94) Kardec afirma que, muitas vezes, é impossível verificar essa identidade, sobretudo quando se trata de Espíritos superiores, antigos relativamente à nossa época.
Nada obstante, há algumas circunstâncias, dentre tantas, que permitem a identificação do Espírito comunicante:

  1. linguagem - Espíritos elevados se valem de linguagem digna e também elevada. Quando é o caso de nos comunicarmos com Espíritos conhecidos dos presentes, será possível apontar se a linguagem empregada é coerente com a do encarnado que conhecíamos;
  2. caligrafia - no caso da psicografia, claro, entre os médiuns mecânicos e semimecânicos, os Espíritos comunicantes podem (notem que podem, não que devem) manter a mesma escrita que possuíam quando encarnados. A esse respeito, consultem o item 219 de O Livro dos Médiuns;
  3. hábitos - será possível atestar da identidade de Espíritos pelos hábitos que tinham quando eram encarnados. Diferentemente do que muitos supõem, o fenômeno da morte não produz mudanças radicais nas pessoas: o religioso continuará se reunindo aos que lhe partilham a fé e o devasso será encontrado entre os "seus". Assim, pelas atitudes, comportamento, maneiras de se expressar, etc., que o encarnado possuía, ele será reconhecido na Espiritualidade.

2. Explique a frase: "Os Espíritos superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para eles, o fundo do pensamento é tudo."

Quanto à forma deveremos entender a clareza, a correção, a precisão da linguagem. Para apurá-la nos bastará o estudo da gramática, muita leitura e alguma experiência de redação. Quanto ao fundo do pensamento, este se liga à natureza do raciocínio, da lógica, do bom senso, da ponderação.

Vejamos o que Kardec nos diz na questão 267, item 5º, de O Livro dos Médiuns:

"Não se deve julgar da qualidade do Espírito pela forma material, nem pela correção do estilo. É preciso sondar-lhe o íntimo, analisar-lhe as palavras, pesá-las friamente, maduramente e sem prevenção. Qualquer ofensa à lógica, à razão e à ponderação não pode deixar dúvida sobre a sua procedência, seja qual for o nome com que se ostente o Espírito."

E no item 225, o Espírito de Erasto nos ajuda a compreender o ponto:

"(...) os Espíritos não precisam vestir seus pensamentos; eles os percebem e transmitem, reciprocamente, pelo só fato de os pensamentos existirem neles. Os seres corpóreos, ao contrário, só podem perceber os pensamentos, quando revestidos. Enquanto que a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a frase, em suma, vos são necessários para perceberdes, mesmo mentalmente, as idéias, nenhuma forma visível ou tangível nos é necessária a nós.”

É dessa forma que o fundo do pensamento, o conteúdo superior da mensagem, a natureza moralizante do ensinamento de um Espírito elevado, ainda que descrito de forma errada, conta muito mais que o texto rebuscado, que o vernáculo escorreito e elegante, castiço, o estilo literário que um Espírito culto, porém imoral, possa oferecer.


3. Por quê Kardec afirmou, no item XV, que, se bem compreendido, o Espiritismo é um preservativo contra a loucura?

Na primeira parte de O Que é o Espiritismo, Kardec discute a questão sob o título Loucura, suicídio e Obsessão, de onde retiramos alguns trechos:

"Todas as grandes preocupações do espírito podem ocasionar a loucura (...). A loucura provém de um certo estado patológico do cérebro, instrumento do pensamento; estando o instrumento desorganizado, o pensamento fica alterado. A loucura é, pois, um efeito consecutivo, cuja causa primária é uma predisposição orgânica, que torna o cérebro mais ou menos acessível a certas impressões; e isto é tão real que encontrareis pessoas que pensam excessivamente e não ficam loucas, ao passo que outras enlouquecem sob o influxo da menor excitação."

"Existindo uma predisposição para a loucura, toma esta o caráter de preocupação principal, que então se torna idéia fixa; esta poderá ser a dos Espíritos, num indivíduo que deles se tenha ocupado, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma ciência, da maternidade, de um sistema político ou social. É provável que o louco religioso se tivesse tornado um louco espírita, se o Espiritismo fosse a sua preocupação dominante.

"É certo que um jornal disse que se contavam, só em uma localidade da América (...) 4.000 casos de loucura espírita; (...) é uma esquisitice como outra qualquer. Para eles, nós somos todos dignos de um hospital de doidos, e, por conseqüência, os 4.000 espíritas da localidade em questão eram considerados como loucos. Dessa espécie, os Estados Unidos contam centenas de milhares, e todos os países do mundo um número ainda muito maior. Esse gracejo de mau gosto começa a não ter valor, desde que tal moléstia vai invadindo as classes mais elevadas da sociedade (...)."

Kardec afirma que o Espiritismo é um preservativo contra a loucura porque ele nos permite enxergar a vida a partir de um novo prisma. Uma decepção amorosa, por exemplo, que para um materialista poderia ser considerada uma tragédia colossal, para o espírita convicto, que compreende o que está além do simples aparente, o fato é sentido com maior maturidade, certo de que aquela experiência é passageira, que "o fim do mundo não será nenhum fim do mundo", conforme a música do Lobão. Quer dizer que o espírita é um "super-homem", imune às tristezas, às dificuldades da vida? Não, claro que não. O espírita sente, sofre e chora, mas com dignidade. Ele não é mais uma criancinha birrenta, revoltada contra a vida e contra todos. Ele busca compreender a realidade, de forma madura, tranqüila, sabendo que "Deus está no comando" e confia que o auxílio necessário já foi providenciado. Além disso, o espírita busca "orar e vigiar" constantemente, conforme preceituou Jesus. Orar, no sentido de estar em permanente conexão com o Plano Espiritual; e vigiar quer dizer: cuidar de pastorear os próprios pensamentos, mantendo-os organizados, elevados, fugindo à intemperança, ao pessimismo, à tristeza, à maledicência - caminhos pavimentados para a loucura.

Que Jesus nos ilumine a todos!

Muita paz!