sexta-feira, julho 28, 2006

Diferentes ordens de Espíritos (q. 96 a 99)

Olá a todos,

Na seqüência de nosso estudo, vamos analisar a questão relativa às diferentes ordens de Espíritos. Iniciaremos com um resumo de O Livro dos Espíritos, referente ao tema, e, em seguida, analisaremos algumas questões de aprofundamento.

Bom estudo a todos!

Resumo de O Livro dos Espíritos

Os Espíritos são de diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado. (LE 96)

As ordens ou graus de perfeição dos Espíritos são ilimitadas em número, porque entre elas não há linhas de demarcação traçadas como barreiras, de sorte que as divisões podem ser multiplicadas ou restringidas livremente. Todavia, considerando-se os caracteres gerais dos Espíritos, elas podem reduzir-se a três principais.

Na primeira, colocar-se-ão os que atingiram a perfeição máxima: os puros Espíritos. Formam a segunda os que chegaram ao meio da escala: o desejo do bem é o que neles predomina. Pertencerão à terceira os que ainda se acham na parte inferior da escala: os Espíritos imperfeitos. A ignorância, o desejo do mal e todas as paixões más que lhes retardam o progresso, eis o que os caracteriza. (LE 97)

Cada Espírito tem o poder de praticar o bem, de acordo com o grau de perfeição a que chegou. Com relação aos Espíritos de segunda ordem, para os quais o bem constitui a preocupação dominante, uns possuem a ciência, outros a sabedoria e a bondade. Todos, porém, ainda têm que sofrer provas. (LE 98)

Os da terceira categoria não são todos essencialmente maus; uns há que não fazem nem o mal nem o bem; outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando se lhes depara ocasião de praticá-lo. Há também os levianos ou estouvados, mais perturbadores do que malignos, que se comprazem antes na malícia do que na malvadez e cujo prazer consiste em mistificar e causar pequenas contrariedades, de que se riem. (LE 99)

Questões de aprofundamento

1. As diferenças entre os Espíritos se apresentam em quais aspectos?

Os Espíritos são diferentes tanto intelectual quanto moralmente.

2. Essas diferenças são permanentes ou temporárias?

É essencial compreender que os Espíritos não pertencem, perpetuamente, à mesma ordem, e que, conseqüentemente, essas ordens não se constituem em espécies distintas: são diferentes graus de desenvolvimento (Vide LE, questão 776).

3. Qual a relação entre as diferentes ordens de Espíritos e a reencarnação?

As doutrinas que defendem a unicidade da existência esbarram numa situação incontornável: como explicar que as diferenças intelectuais e morais, tão patentemente observadas no mundo, não decorrem de privilégios da Divindade? Com a crença na unicidade da existência, não se poderia negar que os mais inteligentes e mais adiantados moralmente tivessem mais sorte que outros, que penam na ignorância e na maldade. É por isso que teologias existem que mais servem para negar a justiça e a bondade de Deus, que propriamente enaltecer sua Soberana atuação no Universo. É o caso, por exemplo, da que defende a predestinação das almas: algumas já nascem com o selo da “salvação” na testa e, independentemente da vida que tenham levado, merecerão as “delícias” do paraíso, enquanto outras, igualmente desconsideradas suas qualidades morais, estão irremediavelmente destinadas ao “fogo do inferno.”

Dessa forma, a reencarnação é o processo que mais se ajusta à idéia da perfeição absoluta de Deus: ela explica como progridem os Espíritos, passando de uma ordem inferior a outra imediatamente acima, até que alcancem a Verdade.

Com isso, aposentam-se as idéias de um paraíso fácil, dependente apenas da filiação a um determinado segmento religioso, das preferências de um Deus parcial, com preferidos e desafetos. Também sucumbem as fórmulas religiosas, os ritos, sacramentos, que dizem algo externamente, mas que não mudam em nada as inclinações inferiores.

Ressalte-se, ainda, a importância do esforço individual e coletivo dos Espíritos a fim de progredirem. Não se pode admitir que uma conversão de boca, de aparência apenas, garanta privilégios futuros.

4. Com a Lei do Progresso, dos seres e das coisas, pode-se depreender que Deus preferiu que sua obra se completasse gradualmente e que suas criaturas cooperassem de alguma forma no atingimento desse objetivo?

Deixaremos a resposta por conta de Calderaro:

“Não somos criações milagrosas, destinadas ao adorno de um paraíso de papelão. Somos filhos de Deus e herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em experiência, de milênio a milênio. Não há favoritismo no Templo Universal do Eterno, e todas as forças da Criação aperfeiçoam-se no Infinito. A crisálida de consciência, que reside no cristal a rolar na corrente do rio, aí se acha em processo liberatório; as árvores que por vezes se aprumam centenas de anos, a suportar os golpes do Inverno e acalentadas pelas carícias da Primavera, estão conquistando a memória; a fêmea do tigre, lambendo os filhinhos recém-natos, aprende rudimentos do amor; o símio, guinchando, organiza a faculdade da palavra. Em verdade, Deus criou o mundo, mas nós nos conservamos ainda longe da obra completa. Os seres que habitam o Universo ressumbrarão suor por muito tempo, a aprimorá-lo. Assim também a individualidade. Somos criação do Autor Divino, e devemos aperfeiçoar-nos integralmente. O Eterno Pai estabeleceu como lei universal que seja a perfeição obra de cooperativismo entre Ele e nós, os seus filhos.” (No Mundo Maior, André Luiz/Chico Xavier, Cap. 3)

5. Qual a relação possível entre aperfeiçoamento progressivo do Espírito e as seguintes idéias: o bem e o mal; trabalho e livre-arbítrio; Justiça e Lei de Deus?

As almas ou Espíritos são criados simples e ignorantes, isto é, sem conhecimentos nem consciência do bem e do mal, porém, aptos para adquirir o que lhes falta. O trabalho é o meio de aquisição, e o fim — que é a perfeição — é para todos o mesmo. Conseguem-no mais ou menos prontamente em virtude do livre-arbítrio e na razão direta dos seus esforços; todos têm os mesmos degraus a franquear, o mesmo trabalho a concluir. Deus não aquinhoa melhor a uns do que a outros, porquanto é justo, e, visto serem todos seus filhos, não tem predileções. Ele lhes diz: Eis a lei que deve constituir a vossa norma de conduta; ela só pode levar-vos ao fim; tudo que lhe for conforme é o bem; tudo que lhe for contrário é o mal. Tendes inteira liberdade de observar ou infringir esta lei, e assim sereis os árbitros da vossa própria sorte. Conseguintemente, Deus não criou o mal; todas as suas leis são para o bem, e foi o homem que criou esse mal, divorciando-se dessas leis; se ele as observasse escrupulosamente, jamais se desviaria do bom caminho.

Entretanto, a alma, qual criança, é inexperiente nas primeiras fases da existência, e daí o ser falível. Não lhe dá Deus essa experiência, mas dá-lhe meios de adquiri-la. Assim, um passo em falso na senda do mal é um atraso para a alma, que, sofrendo-lhe as conseqüências, aprende à sua custa o que importa evitar. Deste modo, pouco a pouco, se desenvolve, aperfeiçoa e adianta na hierarquia espiritual até ao estado de puro Espírito ou anjo. (O Céu e o Inferno, Allan Kardec, Cap. 8, itens 12 e 13)

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domingo, julho 23, 2006

Perispírito (q. 93 a 95)


Olá a todos,

Seguindo nossa leitura e reflexão em torno de O Livro dos Espíritos, vamos analisar o tópico que trata do perispírito (questões 93 a 95).

“No conhecimento do perispírito está a chave de inúmeros problemas até hoje insolúveis.” (O Livro dos Médiuns, Cap. I, item 54).


Vamos a algumas considerações em torno do perispírito:

1. O termo perispírito foi cunhado por Allan Kardec para designar o envoltório semimaterial do Espírito. Como esse envoltório foi designado ao longo dos tempos?

Apóstolo Paulo: Corpo espiritual, conforme escreveu aos Coríntios (1ª Epístola, 15:44), corpo corruptível, logo depois, na mesma epístola, verso 53, ou alma, na exortação aos companheiros da Tessalônica (1ª Epístola, 23), sobrevivente à morte.
André Luiz: Psicossoma ou corpo espiritual;
Aristóteles: Corpo sutil ou etéreo;
Baraduc: Somod;
Bret: Metassoma;
Budismo: Kama-rupa;
Cabala hebraica: Rouach;
Cudworth: mediador plástico;
Egito: Kha ou Bai;
Grécia: Eidolon, Ochéma ou Ferouer;
Henrique Rodrigues: Corpo Estruturador da forma;
Hernani Guimarães Andrade: Modelo Organizador Biológico (MOB);
Índia védica: Mano-maya-kosha ou Linga Sharira;
Leibniz: Corpo fluídico;
Na extinta União Soviética, os cientistas o denominavam: Corpo Bioplasmático e Corpo Energético;
Neognósticos: aerossoma;
Orígenes: Aura;
Paracelso: Corpo astral ou corpo sidéreo;
Pitágoras: Eidolon ou carne sutil da alma;
Proclo: Veículo da alma;
Tertuliano: Corpo vital da alma;
Tradição chinesa: Khi;
Zend-Avesta, dos persas: Baodhas;

2. Pode-se dizer que o perispírito e o corpo físico possuem origens diferentes?
O perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um dos mais importantes produtos do fluido cósmico; é uma condensação desse fluido em torno de um foco de inteligência ou alma. (...) também o corpo carnal tem seu princípio de origem nesse mesmo fluido condensado e transformado em matéria tangível. No perispírito, a transformação molecular se opera diferentemente, porquanto o fluido conserva a sua imponderabilidade e suas qualidades etéreas. O corpo perispirítico e o corpo carnal têm pois origem no mesmo elemento primitivo; ambos são matéria, ainda que em dois estados diferentes. (A Gênese, cap. XIV, item 7. Allan Kardec)

3. Quais as funções do perispírito?
O perispírito, catalisador das energias divinas, que assimila, é encarregado de transmitir e plasmar no corpo as ordens da mente e que procedem do Espírito.
Arquivo das experiências multifárias das reencarnações, impõe, na aparelhagem física, desde a concepção, mediante metabolismo psíquico muito complexo e sutil, as limitações, coerções, punições, ou faculta amplitude de recursos físicos e mentais, conforme as ações do estágio anterior, na carne, em que o Espírito se acumpliciou com o erro ou se levantou com a dignificação.
Interferindo decisivamente no comportamento hereditário, não apenas modela a forma de que se revestirá o Espírito, desde o embrião que se lhe amolda completamente como reproduzindo as expressões fisionômicas e anatômicas, quando da desencarnação.
Graças às moléculas de que se forma, responde pelas alterações da aparelhagem fisiopsíquica, no campo das necessidades reparadoras que a Lei impõe aos Espíritos calcetas.
É o responsável pela irradiação da energia dos trilhões de corpúsculos celulares – essas pequenas usinas que se aglutinam ao império das radiações que lhes impõem a gravitação harmônica, na aparelhagem que constitui os diversos órgãos cuja forma e anatomia lhe pertencem, cabendo às células apenas o seu revestimento -, exteriorizando a aura e podendo, em condições especiais, modelar à distância o duplo etéreo, tornando-o tangível.
Graças à sua complexidade, conserva intacta a individualidade através da esteira das reencarnações, e se faz responsável pela transmissão ao Espírito das sensações que o corpo experimenta, como ao corpo em forma das emoções procedentes das sedes do Espírito, em perfeito entrosamento de energias entre os centros vitais ou de força, que controlam a aparelhagem fisiológica e psicológica e as reações somáticas, que lhes exteriorizam os efeitos do intercâmbio.
Nele estão sediadas as gêneses patológicas de distúrbios dolorosos, quais a esquizofrenia, a epilepsia, o câncer de variada etiologia, o pênfigo... que em momento próprio favorece a sintonia com microorganismos que se multiplicam desordenadamente e tomam de assalto o campo físico ou através de sintonias próprias, ensejando a aceleração das perturbações psíquicas de largo porte.
Em todo processo teratológico [relativo às monstruosidades] os fatores causais lhe pertencem. E, num vasto campo de problemas emocionais como fisiológicos, as síndromes procedem das tecelagens muito delicadas de sua ação dinâmica, poderosa. (Estudos Espíritas, pág. 41 e 42. Joanna de Ângelis/Divaldo Franco)

4. Existe relação possível entre o perispírito e os centros vitais ou chakras?
Desde épocas imemoriais, a filosofia hindu, estudando as suas manifestações no ser reencarnado, relacionou-o com os CHAKRAS ou centros vitais que se encontram em perfeito comando dos órgãos fundamentais da vida, espalhados na fisiologia somática, a saber: CORONÁRIO, também identificado como a “flor de mil pétalas”, que assimila as energias divinas e comanda todos os demais, instalado na parte central do cérebro, qual santuário da vida superior – sede da mente -, responsável pelos processos da razão, da morfologia, do metabolismo geral, da estabilidade emocional e funcional da alma no caminho evolutivo; CEREBRAL ou FRONTAL, que se encarrega do sistema endocrínico, do sistema nervoso e do córtice cerebral, respondendo pela transformação dos neuroblastos em neurônios e comandando desde os neurônios às células efetoras.
LARÍNGEO, que controla os fenômenos da respiração e da fonação; CARDÍACO, que responde pela aparelhagem circulatória e pelo sistema emocional, sediado entre o esterno e o coração; ESPLÊNICO, que se responsabiliza pelo labor da aparelhagem hemática, controlando o surgimento e morte das hemácias, volume e atividade, na manutenção da vida; GÁSTRICO, que conduz a digestão, assimilação e eliminação dos alimentos encarregados da manutenção do corpo; GENÉSICO, que dirige o santuário da reprodução e engendra recursos para o perfeito entrosamento dos seres na construção dos ideais de engrandecimento e beleza em que se movimenta a Humanidade.
Incorporando experiências novas e eliminando expressões primitivas, é o fator essencial para o intercâmbio medianímico entre encarnados e desencarnados. (Estudos Espíritas, pág. 43. Joanna de Ângelis/Divaldo Franco)

5. Pode-se afirmar que o perispírito seria um reflexo do corpo físico?
Para definirmos de alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar antes de tudo, que ele não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade, é o corpo físico que o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação.
Do ponto de vista da constituição e função em que se caracteriza na esfera imediata ao trabalho do homem, após a morte, é o corpo espiritual o veículo físico por excelência, com sua estrutura eletromagnética, algo modificado no que tange aos fenômenos genésicos e nutritivos, de acordo, porém, com as aquisições da mente que o maneja.
Todas as alterações que apresenta, depois do estágio berço-túmulo, verificam-se na base da conduta espiritual da criatura que se despede do arcabouço terrestre para continuar a jornada evolutiva nos domínios da experiência.
Claro está, portanto, que é ele santuário vivo em que a consciência imortal prossegue em manifestação incessante além do sepulcro, formação sutil, urdida em recursos dinâmicos, extremamente porosa e plástica, em cuja tessitura as células, noutra faixa vibratória, à face do sistema de permuta visceralmente renovado, se distribuem mais ou menos à feição das partículas colóides, com a respectiva carga elétrica, comportando-se no espaço segundo a sua condição específica, e apresentando estados morfológicos conforme o campo mental a que se ajusta. (Evolução em dois mundos, pág. 26. André Luiz/Chico Xavier)

6. Quais seriam as propriedades do perispírito?
Revestido o campo energético plasmador da forma por fluidos mais ou menos sutis, em consonância com o progresso alcançado pelo Espírito que dele se utiliza, o perispírito, nas suas atuações mais variadas, no terreno da vida, é portador de características próprias que o deixam melhor compreensível, em face de tudo quanto nele se observa. Estruturado ao largo dos milênios, desde os remotíssimos tempos do princípio anímico, acumulando experiências ao longo das eras, o perispírito vem refletindo a evolução lograda pelo Ser Inteligente, degrau a degrau.
Nessa longa marcha milenária, com o aprimoramento e a complexidade da natureza material, em virtude de ser subproduto do fluído cósmico, princípio material que tudo penetra, e da natureza espiritual pela quintessência, pela imponderabilidade que o assinala, demonstra umas tantas propriedades, importantíssimas, responsáveis por enorme gamade fenômenos de profundidade, inexplicados muitos, por causa da ignorância em torno delas. O perispírito apresenta-se como um corpo PENETRÁVEL e penetrante, ELÁSTICO, EMISSOR por excelência, PLÁSTICO, ABSORVENTE.
Sem embargo, é pela característica da penetrabilidade que esse envoltório do Espírito não encontra barreiras materiais que não possa ultrapassar, adentrando, assim, ambientes hermeticamente vedados, e, pela mesma razão, é atravessado sem dificuldades quaisquer em sua estrutura, pêlos corpos materiais. No aspecto da sua capacidade elástica, concebemos o porquê de estando o corpo em certo lugar, possa o Espírito deslocar-se, desprender-se, munido do seu corpo sutil, viajando para toda parte, por mais distante, quando, então, se caracterizam os fenômenos de desdobramentos, desprendimentos, conscientes ou não, dos indivíduos.
Na área da irradiação, energias emitidas pela alma sempre ativa, expandem-se em determinada região que a circunscreve, sofrendo a sua natural influência, mais ou menos ampla, de conformidade com o nível de desenvolvimento intelectual e moral dessa Inteligência. É graças à sua plasticidade, entretanto, que o corpo perispiritual logra ter modificadas as suas formas externas, consoante a ação do psiquismo da Entidade Espiritual. Convertem-se em figuras dantescas, mesmo irracionais, na hipantropia, na licantropia, ou noutra qualquer expressão zoantrópica, dentro dos estados da mente enferma e culpada, grotesca, liberada do corpo somático.
É, sem dúvida, em razão dessa peculiaridade que os Espíritos Nobres, que possuem méritos reconhecidos, podem mostrar-se no Além com formas joviais ou anciãs, externando aspectos variados de reencarnações próximas ou distanciadas, metamorfoseando-se de acordo com suas necessidades de trabalho ou dos desejos lúcidos. Através da capacidade absorsiva, o perispírito consegue assimilar essências materiais finas, fluídicas, encharcando-se com elas, ou penetrando-se de fluidos espirituais os mais diferenciados, que oferecem ao Espírito, temporariamente, certas sensações como se estivesse encarnado.
Não é por outra causa que Entidades desencarnadas, ainda em estágios grosseiros de evolução, exigem, dos que se põem em suas faixas vibratórias, comidas e bebidas para a sua satisfação pessoal, como recompensa ou pagamento pelas ajudas que prometem prestar. Outros irmãos do Além ordenam que se executem sacrifícios de animais, pedem flores e frutos frescos, ocasiões em que podem absorver dos alimentos e do plasma sangüíneo o fluido vital que, durante algum tempo, dão à Entidade desencarnada um tipo de nutrição que a faz sentir-se humanizada, gente outra vez... Isso lhe faculta mais fácil acesso às suas presas, aos obsessos, e àqueles mesmos que lhes fazem tais ofertas e atendem a essas exigências.
Necessário é que ninguém ignore que todos os que compartilham desses caprichos perniciosos de desencarnados exploradores, patrocinando-lhes esses "alimentos", são co-responsáveis pelos efeitos infelizes que daí advenham, respondendo cada um por seus atos, na relação direta da compreensão que tenham da vida e da virulência com que se hajam mancomunado a esses irmãos desditosos do Invisível.
Os Espíritos não comem, nem bebem, conforme o entendimento humano comum, por faltar-lhes a aparelhagem orgânica para isso. Não obstante, absorvem as essências finas que entretém a vitalidade e gozam os prazeres mais estranhos por meio dessas propriedades valiosas que, por enquanto, não sabem valorizar.
Esse corpo perispirítico, do qual tão pouco ainda se conhece no mundo, guarda em sua estrutura, curiosas, importantes e graves virtudes, graças às quais, um dia, o Espírito, livre e luminoso, alçará vôos a mais vastos e altos céus, transformando-o em "veste nupcial" gloriosa, nos tempos felizes, quando o Espírito melhor identificar-se com o Cristo que, por agora, dormita em sua intimidade, despertando, gradualmente, para a definitiva comunhão com o pensamento do Criador. (Correnteza de Luz, pág. 21. J. Raul Teixeira)

7. O perispírito do reencarnante pode influenciar, de algum modo, na escolha do gameta masculino que fecundará o óvulo, por ocasião do processo de reencarnação?
Quando por ocasião da reencarnação o Espírito é encaminhado por necessidade evolutiva aos futuros genitores, no momento da fecundação o gameta masculino vitorioso esteve impulsionado pela energia do perispírito do reencarnante, que naquele espermatozóide encontrou os fatores genéticos de que necessitava para a programática a que se deve submeter.
A partir desse momento, os códigos genéticos da hereditariedade, em consonância com o conteúdo vibratório dos registros perispirituais, vão organizando o corpo que o Espírito habitará.
Como é certo que, em casos especiais, há toda uma elaboração de programa para o reencarnante, na generalidade, os automatismos vibratórios das Leis de Causalidade respondem pela ocorrência, que jamais tem lugar ao acaso.
Todo elemento irradia vibrações que lhe tipificam a espécie e respondem pela sua constituição.
Espermatozóides e óvulos, em conseqüência, possuem campo de força específico, que propele os primeiros para o encontro com os últimos, facultando o surgimento da célula ovo.
Por sua vez, cada gameta exterioriza ondas que correspondem à sua fatalidade biológica, na programação genética de que se faz portador.
Desse modo, o perispírito do reencarnante sincroniza com a vibração do espermatozóide que possui a mesma carga vibratória, sobre ele incidindo e passando a plasmar no óvulo fecundado o corpo compatível com as necessidades evolutivas, como decorrência das catalogadas ações pretéritas. Equilíbrio da forma ou anomalia, habilidades e destreza, ou incapacidade, inteligência, memória e lucidez, ou imbecilidade, atraso mental, oligofrenia serão estabelecidos desde já pela incidência das conquistas espirituais sobre o embrião em desenvolvimento. (Temas da Vida e da Morte, pág. 36. Manoel Philomeno de Miranda/Divaldo P. de Miranda)
8. Kardec também se referiu ao tema atração que se opera entre o Espírito reencarnante e o corpo físico em formação. Como ele menciona essa ligação e em que obra?
O Codificador tratou do assunto na obra A Gênese, mais especificamente no capítulo 11, item 18. Vejamos: “Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior.
Por um efeito contrário, a união do perispírito e da matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em conseqüência da desorganização do corpo. Mantida que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito.
Dado que, um instante após a morte, completa é a integração do Espírito; que suas faculdades adquirem até maior poder de penetração, ao passo que o princípio de vida se acha extinto no corpo, provado evidentemente fica que são distintos o princípio vital e o princípio espiritual.”
9. Existe relação entre a natureza do perispírito e o grau de adiantamento moral do Espírito?
A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do Espírito. Os Espíritos inferiores não podem mudar de envoltório a seu belprazer, pelo que não podem passar, à vontade, de um mundo para outro. Alguns há, portanto, cujo envoltório fluídico, se bem que etéreo e imponderável com relação à matéria tangível, ainda é por demais pesado, se assim nos podemos exprimir, com relação ao mundo espiritual, para não permitir que eles saiam do meio que lhes é próprio. Nessa categoria se devem incluir aqueles cujo perispírito é tão grosseiro, que eles o confundem com o corpo carnal, razão por que continuam a crer-se vivos. Esses Espíritos, cujo número é avultado, permanecem na superfície da Terra, como os encarnados, julgando-se entregues às suas ocupações terrenas.
Outros um pouco mais desmaterializados não o são, contudo, suficientemente, para se elevarem acima das regiões terrestres.
Os Espíritos superiores, ao contrário, podem vir aos mundos inferiores, e, até, encarnar neles. Tiram, dos elementos constitutivos do mundo onde entram, os materiais para a formação do envoltório fluídico ou carnal apropriado ao meio em que se encontrem. Fazem como o nobre que despe temporariamente suas vestes, para envergar os trajes plebeus, sem deixar por isso de ser nobre.
É assim que os Espíritos da categoria mais elevada podem manifestar-se aos habitantes da Terra ou encarnar em missão entre estes. Tais Espíritos trazem consigo, não o invólucro, mas a lembrança, por intuição, das regiões donde vieram e que, em pensamento, eles vêem. São videntes entre cegos. (A Gênese, cap. XIV, item 9. Allan Kardec)

Para saber mais: 1 - A Agonia das religiões - pág. 63/106; 2 - A alma é imortal - pág. 61/82/120/157/200; 3 - A caminho da luz - pág. 31; 4 - A crise da morte - pág. 66/93; 5 - A evolução anímica - pág. 22/47/85/100/120; 6 - A evolução do princípio inteligente - pág. 115; 7 - A gênese - cap. XIV, 7; 8 - A levitação - pág. 15/19/115; 9 - A reencarnação - pág. 35/51/141/286; 10 - Ação e reação - pág. 39/30/93/171/254; 11 - As aves feridas na Terra voam - pág. 85; 12 - Catecismo espírita - pág. 49 (23ª. lição); 13 - Correnteza de luz - pág. 21/25; 14 - Depois da morte - pág. 49/73/174/207/226; 15 - Emmanuel - pág. 129; 16 - Entre o céu e a Terra - pág. 42/47/78/81; 17 - Estudos Espíritas - pág. 39; 18 - Evolução em dois mundos - pág. 12/25/29/31/138; 19- Gênese da alma - pág. 86; 20 - O céu e o inferno - 1ª. parte, cap. III, 10; 21 - O consolador - pág. 35; 22 - O Livro dos Espíritos - Q.93/135/141/150/155/187; 23 - O Livro dos Médiuns - Questões: 53 a 59; 24 - O porquê da vida - pág. 91; 25 - Pureza Doutrinária - pag. 58; 26 - Sintese de o novo Testamento - pág. 60/226/251; 27 - Perispírito e corpo mental - toda a obra; 28 - Roteiro - pág. 31; 29 - O espiritismo perante a ciência - pág. 217; 30 - Espírito, perispírito e alma - toda a obra; 31 – O passe – cap. 2.
E ainda:
http://www.espiritismo.org/perisp.htm
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/perispirito/index.html
http://www.guia.heu.nom.br/perispirito.htm
http://www.perispirito.com.br/
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Resumo de O Livro dos Espíritos
O Espírito é envolvido por uma substância, vaporosa para os nossos olhos, mas ainda bastante grosseira para os Espíritos; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.
Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito. (LE 93)

O Espírito tira o seu invólucro semimaterial do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa. (LE 94)

Quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio tomam um perispírito mais grosseiro. É necessário que se revistam da nossa matéria. (LE 94a)

O perispírito tem a forma que o Espírito queira. É assim que este nos aparece algumas vezes, quer em sonho, quer no estado de vigília, e que pode tomar forma visível, mesmo palpável. (LE 95)


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sexta-feira, julho 14, 2006

Forma e ubiqüidade dos Espíritos (q. 88 a 92)

Olá a todos,

O próximo item de nosso estudo refere-se à forma e ubiqüidade dos Espíritos (questões 88 a 92, de O Livro dos Espíritos), que, a nosso ver, não permite dúvidas.

Assim, propomos um resumo de informações sobre o Espírito, conforme encontramos nas Obras Básicas. Para isso, vamos nos valer do resumo dos ensinamentos espíritas, contido no opúsculo O Espiritismo em sua expressão mais simples, de Allan Kardec.

1. Kardec considera o Espírito de duas maneiras: como um princípio e como os seres inteligentes da criação. Explique cada uma das formas.
Deus criou a matéria que constitui os mundos; também criou seres inteligentes que chamamos de Espíritos, encarregados de administrar os mundos materiais segundo as leis imutáveis da criação, e que são perfectíveis por sua natureza. Aperfeiçoando-se, eles se aproximam da Divindade. (Cap. 2, item 2)
O espírito propriamente dito é o princípio inteligente; sua natureza íntima nos é desconhecida; para nós ele é imaterial, porque não tem nenhuma analogia com o que chamamos matéria. (Cap. 2, item 3)

2. Que outras características apresentam os Espíritos?
Os Espíritos são seres individuais; têm um envoltório etéreo, imponderável, chamado perispírito, espécie de corpo fluídico, semelhante à forma humana. Povoam os espaços, que percorrem com a rapidez do raio, e constituem o mundo invisível. (Cap. 2, item 4)

3. O que se pode dizer da origem e modo de criação dos Espíritos?
A origem e o modo de criação dos Espíritos nos são desconhecidos; só sabemos que são criados simples e ignorantes, quer dizer, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas com igual aptidão para tudo, pois Deus, em sua justiça, não podia isentar uns do trabalho que teria imposto aos outros para chegar à perfeição. No princípio, ficam em uma espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua existência. (Cap. 2, item 5)

4. Qual deve ser o objetivo dos Espíritos?
Desenvolvendo-se o livre arbítrio nos Espíritos ao mesmo tempo que as idéias, Deus lhes diz: "Vocês podem aspirar à felicidade suprema, assim que tiverem adquirido os conhecimentos que lhes faltam e cumprido a tarefa que lhes imponho. Então trabalhem para seu engrandecimento; este é o objetivo; irão atingi-lo seguindo as leis que gravei em sua consciência." Em conseqüência de seu livre arbítrio, uns tomam o caminho mais curto, que é o do bem, outros o mais longo, que é o do mal. (Cap. 2, item 6)

5. Estando os Espíritos submetidos a tantas vicissitudes, pode-se dizer que Deus criou o mal para ajudar na evolução dos seres inteligentes da criação?
Deus não criou o mal; estabeleceu leis, e essas leis são sempre boas, porque ele é soberanamente bom; aquele que as observasse fielmente seria perfeitamente feliz; mas os Espíritos, tendo seu livre arbítrio, nem sempre as observaram, e o mal veio de sua desobediência. Pode-se então dizer que o bem é tudo o que é conforme à lei de Deus e o mal tudo o que é contrário a essa mesma lei. (Cap. 2, item 7)

6. Por que necessitam os Espíritos de passarem pela existência material?
Para cooperar, como agentes do poder divino, com a obra dos mundos materiais, os Espíritos revestem-se temporariamente de um corpo material. Pelo trabalho de que sua existência corpórea necessita, eles aperfeiçoam sua inteligência e adquirem, observando a lei de Deus, os méritos que devem conduzi-los à felicidade eterna. (Cap. 2, item 8)

7. Pode-se, desta forma, entender a internação na matéria como sendo uma punição para o Espírito?
A encarnação não foi imposta ao Espírito, no princípio, como uma punição; ela é necessária ao seu desenvolvimento e para a realização das obras de Deus, e todos devem resignar-se a ela, tomem o caminho do bem ou do mal; só que os que seguem o caminho do bem, avançando mais rapidamente, demoram menos a chegar ao fim e lá chegam em condições menos penosas. (Cap. 2, item 9)

8. Como se dá o aperfeiçoamento do Espírito? Ele pode se dar em uma única existência corporal?
O aperfeiçoamento do Espírito é o fruto de seu próprio trabalho; não podendo, em uma única existência corpórea, adquirir todas as qualidades morais e intelectuais que devem conduzi-lo ao objetivo, ele aí chega por uma sucessão de existências, dando em cada uma delas alguns passos adiante no caminho do progresso. (Cap. 2, item 12)

9. O número de existências corporais é o mesmo para todos os Espíritos?
Em cada existência corpórea o Espírito deve cumprir uma missão proporcional a seu desenvolvimento; quanto mais ela for rude e laboriosa, maior seu mérito em cumpri-la. Cada existência é, assim, uma prova que o aproxima do alvo. O número de suas existências é indeterminado. Depende da vontade do Espírito de abreviá-las, trabalhando ativamente em seu aperfeiçoamento moral; assim como depende da vontade do operário que tem de realizar um trabalho abreviar o número de dias para sua execução. (Cap. 2, item 13)


Resumo de O Livro dos Espíritos

O Espírito é como uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea. (LE 88)

O Espírito tem uma coloração que vai do colorido escuro e opaco a uma cor brilhante, qual a do rubi, conforme o Espírito é mais ou menos puro. (LE 88a)

Representam-se de ordinário os gênios com uma chama ou estrela na fronte. É uma alegoria, que lembra a natureza essencial dos Espíritos. Colocam-na no alto da cabeça, porque aí está a sede da inteligência.

Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço, mas o fazem com a rapidez do pensamento. (LE 89)

Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois que é a alma quem pensa. O pensamento é um atributo. (LE 89a)

O Espírito que se transporta de um lugar a outro pode perfeitamente, se o quiser, inteirar-se da distância que percorre, mas também essa distância pode desaparecer completamente, dependendo isso da sua vontade, bem como da sua natureza mais ou menos depurada. (LE 90)

A matéria não opõe qualquer obstáculo ao Espírito; eles passam através de tudo. O ar, a terra, as águas e até mesmo o fogo lhes são igualmente acessíveis. (LE 91)

Não pode haver divisão de um mesmo Espírito; mas, cada um é um centro que irradia para diversos lados. Isso é que faz parecer estar um Espírito em muitos lugares ao mesmo tempo. O sol é um somente. No entanto, irradia em todos os sentidos e leva muito longe os seus raios. Contudo, não se divide. (LE 92)

Os Espíritos não irradiam com igual força. Essa força depende do grau de pureza de cada um. Cada Espírito é uma unidade indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados, sem que se fracione para tal efeito. Nesse sentido unicamente é que se deve entender o dom da ubiqüidade atribuído aos Espíritos. Dá-se com eles o que se dá com uma centelha, que projeta longe a sua claridade e pode ser percebida de todos os pontos do horizonte; ou, ainda, o que se dá com um homem que, sem mudar de lugar e sem se fracionar, transmite ordens, sinais e movimento a diferentes pontos. (LE 92a)
* * *

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segunda-feira, julho 03, 2006

Mundo normal primitivo (q. 84 a 86)

Olá a todos,

Dando continuidade ao nosso estudo, vamos ler sobre o Mundo normal e primitivo, questões 84 a 86, de O Livro dos Espíritos.

Como reflexão, fica um convite para fazermos uma associação entre o texto da semana e as seguintes passagens do Novo Testamento:

1. LUCAS, cap. IX, vv. 59 e 60

Eis a passagem: Disse a outro: Segue-me; e o outro respondeu: Senhor, consente que, primeiro, eu vá enterrar meu pai. - Jesus lhe retrucou: Deixa aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o reino de Deus.

N’O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII, itens 7 e 8, Kardec assim explica a passagem: Que podem significar estas palavras: "Deixa aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos"? As considerações precedentes mostram, em primeiro lugar, que, nas circunstâncias em que foram proferidas, não podiam conter censura àquele que considerava um dever de piedade filial ir sepultar seu pai. Tem, no entanto, um sentido profundo, que só o conhecimento mais completo da vida espiritual podia tomar perceptível.

A vida espiritual é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito, sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da outra. O corpo não passa de simples vestimenta grosseira que temporariamente cobre o Espírito, verdadeiro grilhão que o prende à gleba terrena, do qual se sente ele feliz em libertar-se. O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira; é, pela lembrança, o Espírito ausente quem o infunde. Ele é análogo àquele que se vota aos objetos que lhe pertenceram, que ele tocou e que as pessoas que lhe são afeiçoadas guardam como relíquias. Era isso o que aquele homem não podia por si mesmo compreender. Jesus lho ensina, dizendo: Não te preocupes com o corpo, pensa antes no Espírito; vai ensinar o reino de Deus; vai dizer aos homens que a pátria deles não é a Terra, mas o céu, porquanto somente lá transcorre a verdadeira vida.”

Com a explicação de Kardec, a associação entre os dois trechos, o d’O Livro dos Espíritos e o do Novo Testamento, fica clara: reforça-se a idéia de que o mundo espiritual é o que importa em primeiro lugar, e não o mundo material, o impermenante, o transitório.

2. MATEUS, cap. XIX, v. 29, LUCAS, cap. XVIII, vv. 28 a 30 e LUCAS, cap. IX, vv. 61 e 62

Os trechos são os seguintes:

·Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, os seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras, receberá o cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna. (MATEUS, cap. XIX, v. 29.)

·Então, disse-lhe Pedro: Quanto a nós, vês que tudo deixamos e te seguimos. -Jesus lhe observou: Digo-vos, em verdade, que ninguém deixará, pelo reino de Deus, sua casa, ou seu pai, ou sua mãe, ou seus irmãos, ou sua mulher, ou seus filhos - que não receba, já neste mundo, muito mais, e no século vindouro a vida eterna. (S. LUCAS, cap. XVIII, vv. 28 a 30.)

·Disse-lhe outro: Senhor, eu te seguirei; mas, permite que, antes, disponha do que tenho em minha casa. - Jesus lhe respondeu: Quem quer que, tendo posto a mão na charrua, olhar para trás, não esta apto para o reino de Deus. (S. LUCAS, cap. IX, vv. 61 e 62.)

Como na questão anterior, vamos obter as explicações no capítulo 23 de O Evangelho Segundo o Espiritismo (itens 4,5 e 6): “Sem discutir as palavras, deve-se aqui procurar o pensamento, que era, evidentemente, este: ‘Os interesses da vida futura prevalecem sobre todos os interesses e todas as considerações humanas’, porque esse pensamento está de acordo com a substância da doutrina de Jesus, ao passo que a idéia de uma renunciação à família seria a negação dessa doutrina.

Não temos, aliás, sob as vistas a aplicação dessas máximas no sacrifício dos interesses e das afeições de família aos da Pátria? Censura-se, porventura, aquele que deixa seu pai, sua mãe, seus irmãos, sua mulher, seus filhos, para marchar em defesa do seu país? Não se lhe reconhece, ao contrário, grande mérito em arrancar-se às doçuras do lar doméstico, aos liames da amizade, para cumprir um dever? E que, então, há deveres que sobrelevam a outros deveres. Não impõe a lei à filha a obrigação de deixar os pais, para acompanhar o esposo? Formigam no mundo os casos em que são necessárias as mais penosas separações. Nem por isso, entretanto, as afeições se rompem. O afastamento não diminui o respeito, nem a solicitude do filho para com os pais, nem a ternura destes para com aquele. Vê-se, portanto, que, mesmo tomadas ao pé da letra, excetuado o termo odiar, aquelas palavras não seriam uma negação do mandamento que prescreve ao homem honrar a seu pai e a sua mãe, nem do afeto paternal; com mais forte razão, não o seriam, se tomadas segundo o espírito. Tinham elas por fim mostrar, mediante uma hipérbole, quão imperioso é para a criatura o dever de ocupar-se com a vida futura. Aliás, pouco chocantes haviam de ser para um povo e numa época em que, como conseqüência dos costumes, os laços de família eram menos fortes, do que no seio de uma civilização moral mais avançada. Esses laços, mais fracos nos povos primitivos, fortalecem-se com o desenvolvimento da sensibilidade e do senso moral. A própria separação é necessária ao progresso. Assim as famílias como as raças se abastardam, desde que se não entrecruzem, se não enxertem umas nas outras. E essa urna lei da Natureza, tanto no interesse do progresso moral, quanto no do progresso físico.

Aqui, as coisas são consideradas apenas do ponto de vista terreno. O Espiritismo no-las faz ver de mais alto, mostrando serem os do Espírito e não os do corpo os verdadeiros laços de afeição; que aqueles laços não se quebram pela separação, nem mesmo pela morte do corpo; que se robustecem na vida espiritual, pela depuração do Espírito, verdade consoladora da qual grande força haurem as criaturas, para suportarem as vicissitudes da vida.”

3. JOÃO, cap. XVIII, vv. 33, 36 e 37

Eis o trecho indicado:

“Pilatos, tendo entrado de novo no palácio e feito vir Jesus à sua presença, perguntou-lhe: És o rei dos judeus? - Respondeu-lhe Jesus: Meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para impedir que eu caísse nas mãos dos judeus; mas, o meu reino ainda não é aqui.

Disse-lhe então Pilatos: És, pois, rei? - Jesus lhe respondeu: Tu o dizes; sou rei; não nasci e não vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade. Aquele que pertence a verdade escuta a minha voz. (S. JOÃO, cap. XVIII, vv. 33, 36 e 37.)

Também aqui deixamos a explicação para quem possui competência: Kardec.

No segundo capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que se intitula Meu Reino não é deste mundo, assim o Codificador da Doutrina ensina:

“Por essas palavras, Jesus claramente se refere à vida futura, que ele apresenta, em todas as circunstâncias, como a meta a que a Humanidade irá ter e como devendo constituir objeto das maiores preocupações do homem na Terra. Todas as suas máximas se reportam a esse grande princípio. Com efeito, sem a vida futura, nenhuma razão de ser teria a maior parte dos seus preceitos morais, donde vem que os que não crêem na vida futura, imaginando que ele apenas falava na vida presente, não os compreendem, ou os consideram pueris.

Esse dogma pode, portanto, ser tido como o eixo do ensino do Cristo, pelo que foi colocado num dos primeiros lugares à frente desta obra. E que ele tem de ser o ponto de mira de todos os homens; só ele justifica as anomalias da vida terrena e se mostra de acordo com a justiça de Deus." (item 2)

No item seguinte Kardec explica que Jesus não poderia desenvolver mais o conceito da vida futura porque o povo não tinha (e muitos ainda não têm) condições de compreender. Estando os homens mais maduros para compreender a verdade, o Espiritismo vem trazer os desdobramentos das palavras de Jesus, já não deixando dúvidas sobre o mundo espiritual e suas relações com o mundo da matéria. É compreensível que muitos ainda não queiram ver a verdade e a perseguição implacável que o Espiritismo sofreu e sofre é resultado da inferioridade intelectual e moral dos homens.

4. Hebreus, Cap. XII, 1

Eis o trecho: “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta.”

Paulo, nessa carta aos hebreus, dá clara indicação de que tinha conhecimento do mundo espiritual e da realidade dos Espíritos que nos rodeiam e que se acotovelam ao nosso lado. Kardec, na questão 459 de O Livro dos Espíritos, vai nos dar mais e interessantes detalhes da influência que essa “nuvem” desempenha em nossa vida. Aguardemos até lá.

Muita paz!

Resumo de O Livro dos Espíritos
Mundo normal primitivo

Os Espíritos constituem um mundo à parte, fora daquele que vemos, o mundo dos Espíritos, ou das inteligências incorpóreas. (q. 84)

O mundo espírita é o principal na ordem das coisas; ele preexiste e sobrevive a tudo. (q. 85)

O mundo corporal poderia deixar de existir, ou nunca ter existido, sem que isso alterasse a essência do mundo espírita. Eles são independentes; contudo, é incessante a correlação entre ambos, porquanto um sobre o outro incessantemente reagem. (q. 85)

Os Espíritos não ocupam uma região determinada e circunscrita no espaço. Eles estão por toda parte. Povoam infinitamente os espaços infinitos. Muitos deles estão continuamente ao nosso lado, observando-nos e sobre nós atuando, sem o percebermos, pois que os Espíritos são uma das potências da natureza e os instrumentos de que Deus se serve para execução de seus desígnios providenciais. Nem todos, porém, vão a toda parte, por isso que há regiões interditas aos menos adiantados.” (q. 86)

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terça-feira, junho 27, 2006

Origem e natureza dos Espíritos (q.76 a 83)

A Segunda Parte de O Livro dos Espíritos se intitula "Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos" e é desdobrada em O Livro dos Médiuns. Composto por 11 capítulos, o primeiro deles, que trata da "origem e natureza dos Espíritos", vai da questão 76 à 83. Para o estudo deste capítulo, sugere-se a leitura do terceiro capítulo da obra Estudos Espíritas, do Espírito Joanna de Ângelis/Divaldo Franco.

Vamos às questões de reflexão:
1. Qual a definição que se pode dar aos espíritos?

Em todas as questões desta semana, acompanharemos as respostas da mentora de Divaldo Franco, Joanna de Ângelis, colhidas no livro Estudos Espíritas, Capítulo 3. Joanna assim se expressa a respeito dos Espíritos: “Individualidades inteligentes, incorpóreas, que povoam o Universo, criadas por Deus, independente da matéria. Prescindindo do mundo corporal, agem sobre ele e, corporificando-se através da carne, recebem estímulos, transmitindo impressões, em intercâmbio expressivo e contínuo.”

2. A existência do Espírito se circunscreve a um período limitado de tempo e de ocupação no espaço?

“Os Espíritos são de todos os tempos, desde que a criação é infinita, sempre existiram e jamais cessarão. Constituem os seres que habitam tudo, no Cosmo, tornando-se uma das potências da Natureza e atuam na Obra Divina como cooperadores, do que resulta a própria evolução e aperfeiçoamento intérmino. Indestrutíveis, jamais terão fim, não obstante possuindo princípio, quando a Excelsa Vontade os criou.”

3. Pode-se ter idéia de como se originam os Espíritos?

“Perdendo-se suas origens no intrincado da complexidade das leis, transcende ao entendimento humano o mecanismo de seu nascimento e formação, princípio inteligente que são, a glorificar a Obra de Deus em toda parte.”
Muita paz,

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Resumo de O Livro dos Espíritos

Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos

Como definição, pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o Universo, fora do mundo material.
NOTA — A palavra Espírito é empregada aqui para designar as individualidades dos seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente do Universo. (q. 76)

Os Espíritos são obra de Deus, exatamente qual a máquina o é do homem que a fabrica. A máquina é obra do homem, não é o próprio homem. Quando faz alguma coisa bela, útil, o homem lhe chama sua filha, criação sua. O mesmo se dá com relação a Deus: somos seus filhos, pois que somos obra sua. (q. 77)

Os Espíritos tiveram princípio, ou seja, não existem, como Deus, de toda a eternidade. Se não tivessem tido princípio, seriam iguais a Deus, quando, ao invés, são criação sua e se acham submetidos à sua vontade. Deus existe de toda a eternidade, é incontestável.
Quanto, porém, ao modo por que nos criou e em que momento o fez, nada sabemos. Pode-se dizer que não tivemos princípio, se quiseres com isso significar que, sendo eterno, Deus há de ter sempre criado ininterruptamente. Mas, quando e como cada um de nós foi feito, repito-te, nenhum o sabe: aí é que está o mistério. (q. 78)

Pois que há dois elementos gerais no Universo: o elemento inteligente e o elemento material, poder-se-á dizer que os Espíritos são formados do elemento inteligente, como os corpos inertes o são do elemento material. Os Espíritos são a individualização do princípio inteligente, como os corpos são a individualização do princípio material. A época e o modo por que essa formação se operou é que são desconhecidos. (q. 79)

A criação dos Espíritos é permanente, quer dizer: Deus jamais deixou de criar. (q. 80)

Deus cria os Espíritos, como a todas as outras criaturas, pela sua vontade. Mas, repete-se ainda uma vez, a origem deles é mistério. (q. 81)

Para uma idéia mais acertada do que são os Espíritos, faltam-nos termos de comparação e nossa linguagem é deficiente. É como se um cego de nascença tentasse definir a luz. Dizer-se que os Espíritos são imateriais não é correto; dizer que são incorpóreos seria mais exato, pois deve-se compreender que, sendo uma criação, o Espírito há de ser alguma coisa. É a matéria quintessenciada [vem de quinta-essência - Dicionário Aurélio: 1. O que há de principal, de melhor ou de mais puro; o essencial. 2. Na tradição pitagórica seguida por Aristóteles o quinto elemento ou substância primária, que é corpórea, brilhante e sutil, e com que são feitos os céus e corpos celestes], mas sem analogia para nós, e tão etérea que escapa inteiramente ao alcance dos nossos sentidos.
Nota de Kardec: Dizemos que os Espíritos são imateriais, porque, pela sua essência, diferem de tudo o que conhecemos sob o nome de matéria. Um povo de cegos careceria de termos para exprimir a luz e seus efeitos. O cego de nascença se julga capaz de todas as percepções pelo ouvido, pelo olfato, pelo paladar e pelo tato. Não compreende as idéias que só lhe poderiam ser dadas pelo sentido que lhe falta. Nós outros somos verdadeiros cegos com relação à essência dos seres sobre-humanos. Não os podemos definir senão por meio de comparações sempre imperfeitas, ou por um esforço da imaginação. (q. 82)

Perguntados se os Espíritos têm fim, os Instrutores Espirituais respondem que há muitas coisas que não compreendamos, porque nossa inteligência é limitada. Isso, porém, não é razão para que afastemos, repilemos essas coisas. O filho não compreende tudo o que a seu pai é compreensível, nem o ignorante tudo o que o sábio apreende. E concluem: “dizemos que a existência dos Espíritos não tem fim. É tudo o que podemos, por agora, dizer.” (q. 83)

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segunda-feira, junho 26, 2006

Inteligência e instinto (q.71 a 75) - Conclusão

Olá a todos,

Vamos concluir o estudo da semana?

Notem que as respostas deste estudo foram retiradas, integralmente, da obra A Gênese, de Kardec.

1. O que é o instinto?
A Gênese, Cap. III, item 11: O instinto é a força oculta que solicita os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a conservação deles. Nos atos instintivos não há reflexão, nem combinação, nem premeditação. É assim que a planta procura o ar, se volta para a luz, dirige suas raízes para a água e para a terra nutriente; que a flor se abre e fecha alternativamente, conforme se lhe faz necessário; que as plantas trepadeiras se enroscam em torno daquilo que lhes serve de apoio, ou se lhe agarram com as gavinhas. É pelo instinto que os animais são avisados do que lhes convém ou prejudica; que buscam, conforme a estação, os climas propícios; que constroem, sem ensino prévio, com mais ou menos arte, segundo as espécies, leitos macios e abrigos para as suas progênies, armadilhas para apanhar a presa de que se nutrem; que manejam destramente as armas ofensivas e defensivas de que são providos; que os sexos se aproximam; que a mãe choca os filhos e que estes procuram o seio materno.

2. No homem, qual é predominante, o instinto ou a inteligência?
A Gênese, Cap. III, item 11: No homem, só em começo da vida o instinto domina com exclusividade; é por instinto que a criança faz os primeiros movimentos, que toma o alimento, que grita para exprimir as suas necessidades, que imita o som da voz, que tenta falar e andar. No próprio adulto, certos atos são instintivos, tais como os movimentos espontâneos para evitar um risco, para fugir a um perigo, para manter o equilíbrio do corpo; tais ainda o piscar das pálpebras para moderar o brilho da luz, o abrir maquinal da boca para respirar, etc.

3. De que forma a inteligência se revela?
A Gênese, Cap. III, item 12: A inteligência se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, de acordo com a oportunidade das circunstâncias.

4. A inteligência se desenvolve com o corpo ou é atributo da alma?
A Gênese, Cap. III, item 12: A inteligência é incontestavelmente um atributo exclusivo da alma.

5. Entre a inteligência e o instinto, qual poderíamos considerar um guia seguro, que nunca se engana?
A Gênese, Cap. III, item 12: O instinto é guia seguro, que nunca se engana; a inteligência, pelo simples fato de ser livre, está, por vezes, sujeita a errar.
Ao ato instintivo falta o caráter do ato inteligente; revela, entretanto, uma causa inteligente, essencialmente apta a prever. Se se admitir que o instinto procede da matéria, ter-se-á de admitir que a matéria é inteligente, até mesmo bem mais inteligente e previdente do que a alma, pois que o instinto não se engana, ao passo que a inteligência se equivoca.

6. Considerando o ato de andar do homem, podemos dizer que se trata de ato instintivo ou inteligente?
A Gênese, Cap. III, item 13: No caminhar, por exemplo, o movimento das pernas é instintivo; o homem põe maquinalmente um pé à frente do outro, sem nisso pensar; quando, porém, ele quer acelerar ou demorar o passo, levantar o pé ou desviar-se de um tropeço, há cálculo, combinação; ele age com deliberado propósito. A impulsão involuntária do movimento é o ato instintivo; a calculada direção do movimento é o ato inteligente.

7. Considerando que o sentimento materno é um ato instintivo, não seria certo dizer que, de certa forma, o instinto tira o mérito do amor revelado pela maternidade, já que a mãe age por, diríamos, mero impulso da natureza?
A Gênese, Cap. III, item 15: O instinto materno, o mais nobre de todos, que o materialismo rebaixa ao nível das forças atrativas da matéria, fica realçado e enobrecido. Em razão das suas conseqüências, não devia ele ser entregue às eventualidades caprichosas da inteligência e do livre-arbítrio. Por intermédio da mãe, o próprio Deus vela pelas suas criaturas que nascem.

8. Sabendo que o instinto e a inteligência são recursos que a Providência Divina oferece aos animais e ao homem com o fim de se conservarem e protegerem, como fica o papel dos Espíritos protetores, encarregados de ajudarem seus protegidos? A teoria do instinto e da inteligência não anularia o papel dos Espíritos protetores?
A Gênese, Cap. III, item 16: Esta teoria de nenhum modo anula o papel dos Espíritos protetores, cujo concurso é fato observado e comprovado pela experiência; mas, deve-se notar que a ação desses Espíritos é essencialmente individual; que se modifica segundo as qualidades próprias do protetor e do protegido e que em parte nenhuma apresenta a uniformidade e a generalidade do instinto. Deus, em sua sabedoria, conduz ele próprio os cegos, porém confia a inteligências livres o cuidado de guiar os clarividentes, para deixar a cada um a responsabilidade de seus atos. A missão dos Espíritos protetores constitui um dever que eles aceitam voluntariamente e lhes é um meio de se adiantarem, dependendo o adiantamento da forma por que o desempenhem.

9. Avaliando o papel desempenhado pelo instinto, como sendo um certo direcionamento que a criatura obedece inconscientemente, não é de se esperar que o instinto se confunda com as paixões, que exercem também um impulso que a criatura atende quase que sem perceber? Qual seria a diferença entre o instinto e as paixões?
A Gênese, Cap. III, item 18: Sendo o instinto o guia e as paixões as molas da alma no período inicial do seu desenvolvimento, por vezes aquele e estas se confundem nos efeitos. Há, contudo, entre esses dois princípios, diferenças que muito importa se considerem.
O instinto é guia seguro, sempre bom. Pode, ao cabo de certo tempo, tornar-se inútil, porém nunca prejudicial. Enfraquece-se pela predominância da inteligência.
As paixões, nas primeiras idades da alma, têm de comum com o instinto o serem as criaturas solicitadas por uma força igualmente inconsciente. As paixões nascem principalmente das necessidades do corpo e dependem, mais do que o instinto, do organismo. O que, acima de tudo, as distingue do instinto é que são individuais e não produzem, como este último, efeitos gerais e uniformes; variam, ao contrário, de intensidade e de natureza, conforme os indivíduos. São úteis, como estimulante, até à eclosão do senso moral, que faz nasça de um ser passivo, um ser racional. Nesse momento, tornam-se não só inúteis, como nocivas ao progresso do Espírito, cuja desmaterialização retardam. Abrandam-se com o desenvolvimento da razão.

10. Tendo-se em vista que as paixões se traduzem por arrastamentos quase irresistíveis e que levam ao sofrimento do homem, não seria de supor que se o homem agisse constantemente pelo instinto, guia seguro, infalível, ele evitaria as armadilhas das paixões? Por outro lado, sabemos que nos cabe buscar o progresso moral e intelectual, o que pressupõe o aniquilamento das paixões e do instinto com o conseqüente desenvolvimento do amor e da razão. Pois bem, como se aniquilam o instinto e as paixões?
A Gênese, Cap. III, item 19: O homem que só pelo instinto agisse constantemente poderia ser muito bom, mas conservaria adormecida a sua inteligência. Seria qual criança que não deixasse as andadeiras e não soubesse utilizar-se de seus membros. Aquele que não domina as suas paixões pode ser muito inteligente, porém, ao mesmo tempo, muito mau. O instinto se aniquila por si mesmo; as paixões somente pelo esforço da vontade podem domar-se.

Muita paz!

terça-feira, junho 20, 2006

Inteligência e instinto (q.71 a 75)


Clique aqui para conhecer o vulto espírita acima.

Olá a todos,

Chegamos ao último item da primeira parte d’O Livro dos Espíritos. Nesta semana, estudaremos sobre a inteligência e o instinto (q. 71 a 75). Para que façamos bom proveito do estudo, sugiro a leitura do capítulo 3 de A Gênese.

Vamos às questões de reflexão:

1. O que é o instinto?

2. No homem, qual é predominante, o instinto ou a inteligência?

3. De que forma a inteligência se revela?

4. A inteligência se desenvolve com o corpo ou é atributo da alma?

5. Entre a inteligência e o instinto, qual poderíamos considerar um guia seguro, que nunca se engana?

6. Considerando o ato de caminhar no homem, podemos dizer que se trata de ato instintivo ou inteligente?

7. Considerando que o sentimento materno é um ato instintivo, não seria certo dizer que, de certa forma, o instinto tira o mérito do amor revelado pela maternidade, já que a mãe age por, diríamos, mero impulso da natureza?

8. Sabendo que o instinto e a inteligência são recursos que a Providência Divina oferece aos animais e ao homem com o fim de se conservarem e protegerem, como fica o papel dos Espíritos protetores, encarregados de ajudarem seus protegidos? A teoria do instinto e da inteligência não anularia o papel dos Espíritos protetores?

9. Avaliando o papel desempenhado pelo instinto, como sendo um certo direcionamento que a criatura obedece inconscientemente, não é de se esperar que o instinto se confunda com as paixões, que exercem também um impulso que a criatura atende quase que sem perceber? Qual seria a diferença entre o instinto e as paixões?

10. Tendo-se em vista que as paixões se traduzem por arrastamentos quase irresistíveis e que levam ao sofrimento do homem, não seria de supor que se o homem agisse constantemente pelo instinto, guia seguro, infalível, ele evitaria as armadilhas das paixões? Por outro lado, sabemos que nos cabe buscar o progresso moral e intelectual, o que pressupõe o aniquilamento das paixões e do instinto com o conseqüente desenvolvimento do amor e da razão. Pois bem, como se aniquilam o instinto e as paixões?

Resumo de O Livro dos Espíritos
Inteligência e instinto
- A inteligência não é atributo do princípio vital, pois que as plantas vivem e não pensam: só têm vida orgânica. A inteligência e a matéria são independentes, porquanto um corpo pode viver sem a inteligência. Mas, a inteligência só por meio dos órgãos materiais pode manifestar-se. Necessário é que o Espírito se una à matéria animalizada para intelectualizá-la.
A inteligência é uma faculdade especial, peculiar a algumas classes de seres orgânicos e que lhes dá, com o pensamento, a vontade de atuar, a consciência de que existem e de que constituem uma individualidade cada um, assim como os meios de estabelecerem relações com o mundo exterior e de proverem às suas necessidades.
Podem distinguir-se assim: 1.º, os seres inanimados, constituídos só de matéria, sem vitalidade nem inteligência: são os corpos brutos; 2.º, os seres animados que não pensam, formados de matéria e dotados de vitalidade, porém, destituídos de inteligência; 3.º, os seres animados pensantes, formados de matéria, dotados de vitalidade e tendo a mais um princípio inteligente que lhes outorga a faculdade de pensar. (q. 71)
- A fonte da inteligência é a inteligência universal. (q. 72)

- Dizer que cada ser tira uma porção de inteligência da fonte universal e a assimila como o faz com o princípio da vida material não seria mais que uma simples comparação, todavia inexata. A inteligência é uma faculdade própria de cada ser e constitui a sua individualidade moral. Há coisas que ao homem não é dado penetrar e esta, por enquanto, é desse número. (q. 72a)
O instinto precisamente não independe da inteligência, por isso que o instinto é uma espécie de inteligência. É uma inteligência sem raciocínio. Por ele é que todos os seres provêem às suas necessidades. (q. 73)
- Não se pode estabelecer uma linha de separação entre instinto e a inteligência, isto é, precisar onde um acaba começa a outra, porque muitas vezes se confundem. Mas, muito bem se podem distinguir os atos que decorrem do instinto dos que são da inteligência. (q. 74)

- Não é acertado dizer-se que as faculdades instintivas diminuem à medida que crescem as intelectuais. O instinto existe sempre, mas o homem o despreza. O instinto também pode conduzir ao bem. Ele quase sempre nos guia e algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca se transvia. (q. 75)

- A razão nem sempre é guia infalível. Seria infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio. O instinto é uma inteligência rudimentar, que difere da inteligência propriamente dita, em que suas manifestações são quase sempre espontâneas, ao passo que as da inteligência resultam de uma combinação e de um ato deliberado.
O instinto varia em suas manifestações, conforme às espécies e às suas necessidades. Nos seres que têm a consciência e a percepção das coisas exteriores, ele se alia à inteligência, isto é, à vontade e à liberdade. (q. 75a)
Muita paz!