quinta-feira, janeiro 26, 2006

Introdução VII e VIII - Conclusão


Olá a todos,
Vamos tentar concluir mais um tópico de nosso estudo.

1. Por quê Kardec afirma que o "Espiritismo não é da alçada da Ciência?"

Todos sabemos que o Espiritismo possui um aspecto tríplice (ciência, filosofia e religião). Segundo Emmanuel, na obra O Consolador, "a ciência, a filosofia e a religião constituem o triângulo sublime sobre o qual a doutrina do Espiritismo assenta as próprias bases, preparando a humanidade do presente para a vitória do AMOR." Vejamos esse aspecto de forma esquemática:




Vejamos, também, o que Kardec escreveu no prêambulo da obra O Que é o Espiritismo, em resposta sumária ao título do próprio opúsculo:

"O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e um doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que dimanam dessas mesmas relações. Podemos defini-lo assim:O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal."

No primeiro capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo, no item 8, lemos sobre A Aliança da Ciência e da Religião, onde Kardec as chama de "alavancas da inteligência humana", defendendo que ambas se ajudem mutuamente para o progresso da Humanidade.

Feita esta breve introdução, vamos à resposta da primeira pergunta. A essência do item VII da Introdução de O Livro dos Espíritos é a oposição que alguns homens da Ciência faziam ao Espiritismo nascente. O que Kardec argumenta no item em tela é que muitos desses cientistas se valiam desse título para lançar a dúvida sobre o fenômeno espírita. Quando Kardec afirma que o Espiritismo não é da alçada da Ciência, ele quer dizer que os fenômenos mediúnicos não podem ser controlados como os elementos de pesquisa em um laboratório comum. É preciso compreender que os Espíritos são inteligências livres, que não se submetem ao capricho dos encarnados como a matéria bruta se submete a uma série infindável de experimentações e sempre "responde" de maneira uniforme, de acordo com as leis da natureza.

Pretender-se um cientista que os Espíritos agissem sempre de acordo com um critério qualquer, a fim do estabelecimento de determinadas leis, seria ingenuidade com relação à própria natureza humana. A própria Psicologia se divide em correntes, que, muitas vezes, mal se comunicam, dada a heterogeneidade das interpretações relativas ao ser humano, estando todas mais ou menos corretas de acordo com o critério adotado. E olha que a Psicologia está considerando o ser encarnado que vê, imaginem conhecer o ser humano invisível, que não se dobra facilmente, que não se submete...

Em síntese, o Espiritismo anda de mãos dadas com a Ciência (daí o seu caráter progressivo), mas é ingenuidade, para o estágio em que nos encontramos, pretender-se o controle absoluto das leis que regem o Plano Espiritual, quando ainda mal dominamos as leis da matéria...

2. Explique a frase: "O homem que julgue infalível a sua razão está bem próximo do erro."

Bom, já afirmei isso antes e confirmo: tudo o que escrevo aqui é fruto de leitura e interpretação pessoal, portanto, suscetível de erro, dadas as minhas imensas limitações. Acho que é prudente reafirmar essa posição, principalmente diante de uma frase como essa de Kardec.

Quase diariamente assistimos pela TV aos conflitos intermináveis entre judeus, muçulmanos e cristãos em Israel. Refletindo sobre o material de estudo desta semana, constatamos ali a aplicação da frase de Kardec, pois cada uma das partes tem a mais firme convicção de que a sua razão é infalível. O judeu não aceita os argumentos do muçulmano, que não compreende o ponto de vista do cristão, que acusa o judeu de intolerância, que...

As três doutrinas possuem ensinamentos morais elevadíssimos, inclusive os referentes ao respeito devido ao outro na proporção do desejado a si próprio, mas os seus profitentes mais fanáticos não percebem o aspecto moral de sua religião e se pegam na tentativa de "imporem" sua visão aos outros. Ou seja, julgam infalível a sua razão...

O mesmo encontramos em nossa realidade diária. Costumamos ter tanto apego ao nosso ponto de vista, que simplesmente desconsideramos os argumentos dos outros, independentemente do embasamento lógico e coerente que possam ter. Agindo dessa forma, portanto, estamos bem próximos do erro. Imaginemos se o Prof. Rivail julgasse infalível sua razão em duvidar da atuação dos Espíritos nos fenômenos das mesas girantes e não se dobrasse de forma alguma diante das evidências. O mesmo ocorreu com os espíritas oriundos de outras religiões. Em algum momento, abrimos mão do que julgávamos ser a verdade e adotamos novas idéias, ou seja, não julgamos nossa razão anterior infalível.

Permito-me uma pequena digressão. Julgar a razão infalível, ou, em termos mais modernos, ter a pretensão de sempre estar com a razão, é sinal de excesso de rigidez e severidade, conforme lemos no capítulo da Rigidez, pág. 137 e seguintes, da obra As Dores da Alma, do Espírito Hammed. A rigidez se expressa pela teimosia, por um apego obstinado às próprias idéias e gostos, nunca admitindo insuficiências e erros. O contrário da rigidez é a flexibilidade, é possuir a "mente aberta" para novos conceitos, novas idéias. Aliás, reforma íntima, desiderato de todo bom espírita, só será possível com o desapego das concepções antigas, do abandono de velhas idéias. Hammed, na mesma obra, pág. 147, faz um alerta sério aos "cabeças-duras" de plantão: "...Na atualidade, os estudiosos da mente acreditam que os indivíduos duros e intransigentes, por não se adaptarem à realidade das coisas, possuem uma maior predisposição para a psicose. Fogem para um universo irreal, classificado como loucura. Essa fuga é, por certo, uma forma de adaptação, para que possam sobreviver no mundo social que eles relutam em aceitar." Acho que a digressão ajuda a explicar a frase acima de Kardec. Espero.

3. Com essas afirmações, Kardec exclui o caráter científico da Doutrina Espírita e afasta o uso da razão em seu estudo? Explique.

De forma alguma o caráter científico da Doutrina Espírita é afastado por Kardec. Notemos que não foi à toa que a Codificação coube a um homem também de ciência, respeitado em sua época, com um caráter firme, que pudesse aplicar um rigor quase excessivo na avaliação do material que chegava pelos mais diferentes médiuns. Se a Doutrina tivesse sido codificada por um ingênuo, impressionável, superficial, ela estaria recheada de incoerências, de superstições, de modismos, como aliás, alguns "reformadores" atuais tentam impingir ao Espiritismo, arrastando uma razoável multidão de seguidores.

Quanto à necessidade de empregarmos a razão, transcrevemos parte de mensagem assinada pelo Espírito Erasto, contida no item 230 de O Livro dos Médiuns:

“Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom-senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. Efetivamente, sobre essa teoria poderíeis edificar um sistema completo, que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento edificado sobre areia movediça, ao passo que, se rejeitardes hoje algumas verdades, porque não vos são demonstradas clara e logicamente, mais tarde um fato brutal, ou uma demonstração irrefutável virá afirmar-vos a sua autenticidade."

4. Como deve ser realizado o estudo do Espiritismo?

Do item VIII, da Introdução ao LE, retiramos algumas características que devem revestir o estudo do Espiritismo:

  • Seriedade (disciplina, recolhimento);
  • Perseverança (assiduidade, continuidade, regularidade);
  • Evitar as prevenções (do tipo, gosto da filosofia espírita, mas não acredito em Espíritos e na reencarnação...);
  • Firme e sincera vontade de chegar a um resultado (estudar para quê?);
  • Método ("começando pelo princípio e acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento das idéias");
  • Perfeita comunhão de pensamentos e de sentimentos para o bem;
  • Concluindo com Kardec: "...Sede, além do mais, laboriosos e perseverantes nos vossos estudos, sem o que os Espíritos superiores vos abandonarão, como faz um professor com os discípulos negligentes."

Para concluir, vale sempre recordar as palavras do Espírito da Verdade, no Capítulo VI, item 5, de O Evangelho Segundo o Espiritismo: "Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo."

Muita paz!