domingo, janeiro 08, 2006

Introdução I e II - Conclusão


Felipe, L’apprentie, Leila Simões e João Antônio, obrigado por terem participado. A leitura meditada, a resposta às questões e a postagem do resultado, de dúvidas e comentários no blog permitem maior dinamicidade ao estudo e incentivo para que continuemos juntos e unidos.
Por um descuido meu, o blog estava configurado para exigir uma inscrição para a postagem de comentários, o que tornava a participação mais complicada. O João Antônio me alertou desse detalhe e, incontinenti, modifiquei a configuração. Dessa forma, a partir do próximo estudo, os comentários poderão ser postados de forma mais ágil.

Como vimos, Kardec inicia a Obra esclarecendo da importância de nos entendermos quanto à terminologia a ser utilizada. Para isso, ele cria termos novos - espírita e Espiritismo – para evitar confusão com os já existentes espiritualista e espiritualismo, e define a acepção em que empregará a palavra alma.

Quanto a esses termos, só por curiosidade indicamos que em algumas traduções (mormente do ramo protestante) da Bíblia há condenações explícitas às práticas do “espiritismo”. Interessante é que o “jeová” que fez essas condenações mal sabia que o termo só foi criado por Kardec, em 1857, portanto não existindo à época da primeira revelação. Por conta desse “simples” detalhe, quantas almas ingênuas e impressionáveis (inclusive dentro de nossas próprias famílias!) não têm nos evitado e condenado irremissivelmente ao “fogo do inferno”?

Quanto à questão em torno do termo alma, de acordo com meu entendimento, todos os comentários postados estão corretos. Eu gostaria, no entanto, de oferecer alguns acréscimos retirados da rica literatura espírita à nossa disposição.

A primeira nota, retirei-a de Camille Flammarion, na obra A Morte e o seu Mistério, v. 1, Cap. 3, p. 52:
“A palavra alma e seus equivalentes em nossas línguas modernas (espírito, por exemplo) ou nas línguas antigas, como anima, animus (transcrição latina do grego), spiritus, atma, alma (vocábulo sânscrito ligado ao grego, vapor), etc. implicam todas a idéia de sopro nos psicólogos da primeira época. Psyche, mesmo, provém do grego, soprar.”
Da obra Pegadas do Mestre, p. 303, da autoria de Vinícius, acrescentamos a interessante informação:
“A alma é a sede da vida. É ela que pensa, que sente, que imprime à matéria esta ou aquela forma, que dá ao rosto esta ou aquela expressão.”
Os que acompanham os estudos do Geema há algum tempo sabem da minha predileção pelas obras de Léon Denis (claro, depois de Kardec). E, dessa forma, Denis não poderia ficar de fora dos nossos comentários sobre a alma. Vejam que beleza de explicação, retirada da obra O Problema do Ser, do Destino e da Dor, p. 119. O título do capítulo é Evolução e Finalidade da Alma, que, com certeza, merece um estudo independente:
“A alma (...) vem de Deus; é em nós o princípio da inteligência e da vida. Essência misteriosa, escapa à análise, como tudo que se origina do Absoluto. Criada pelo amor, criada para amar, tão diminuta que pode ser aprisionada em uma forma limitada e frágil, tão grande que, com um impulso de seu pensamento, abrange o infinito, a alma é uma parcela da essência divina projetada no mundo material.
Desde a hora em que caiu na matéria, qual caminho seguiu para voltar até o ponto atual de sua carreira?
Precisou passar por vias escuras, revestir formas, animar organismos que deixava ao sair de cada existência, como se faz com uma roupa que não serve mais. Todos esses corpos de carne morreram. O sopro do destino dispersou-lhe as cinzas, mas a alma persiste e permanece em sua eternidade; ela persegue sua marcha evolutiva, percorre as inúmeras estações de sua viagem e vai rumo a um objetivo grande e desejável, um objetivo divino, que é a perfeição.
A alma contém, no estado virtual, o princípio de todos os seus desenvolvimentos futuros. Está destinada a tudo conhecer, a tudo conquistar e a tudo possuir. E como ela poderia conseguir tudo isso numa única existência? A vida é curta, e a perfeição está longe! Poderia a alma, em uma vida única, desenvolver seu entendimento, esclarecer sua razão, fortificar sua consciência, assimilar todos os elementos da sabedoria, da santidade, do gênio? Não! Para realizar esses objetivos, é preciso percorrer, no tempo e no espaço, um campo sem limites. É passando por inúmeras transformações, após milhares de séculos, que o mineral grosseiro se transforma em um diamante puro, brilhando mil cintilações. O mesmo acontece com a alma humana.
O objetivo da evolução, a razão de ser da vida, não é a felicidade terrestre – como muitos acreditam erroneamente –, mas o aperfeiçoamento de cada um de nós, e esse aperfeiçoamento devemos realizá-lo por meio do trabalho, do esforço, de todas as alternativas da alegria e da dor, até que estejamos inteiramente desenvolvidos e elevados ao estado celeste. Se há na Terra menos alegria do que sofrimento, é que este é o instrumento, por excelência, da educação e do progresso, um estimulante para o ser, que sem ele permaneceria retardado nos caminhos da sensualidade. A dor física e moral forma nossa experiência. A sabedoria é o prêmio.
Pouco a pouco a alma se eleva e, à medida que vai evoluindo, nela fica acumulada uma soma sempre crescente de sabedoria e de virtude; ela se sente mais estreitamente ligada aos seus semelhantes; comunica-se mais intimamente com seu meio social e planetário. Elevando-se cada vez mais, logo se liga, por traços poderosos, às sociedades do espaço, e depois ao Ser Universal.
Assim, a vida do ser consciente é uma vida de solidariedade e de liberdade. Livre dentro dos limites que as leis eternas determinam, ele se torna o arquiteto de seu destino. Seu adiantamento é sua obra. Nenhuma fatalidade o oprime, a não ser a de seus próprios atos, cujas conseqüências nele recaem. Mas só pode desenvolver-se e crescer na vida coletiva com a cooperação de cada um e em proveito de todos. Quanto mais sobe, mais se sente viver e sofrer em todos e por todos. Em sua necessidade de elevação própria, atrai para si, para fazê-los chegar ao estado espiritual, todos os seres humanos que povoam os mundos onde viveram. Quer fazer por eles o que por ele fizeram os seus irmãos mais velhos, os grandes espíritos que o guiaram na sua marcha.
A lei de justiça requer, por sua vez, que todas as almas sejam emancipadas, libertadas da vida inferior. Cada ser que chega à plena consciência deve trabalhar para preparar aos seus irmãos uma vida suportável, um estado social que apenas comporta a soma de males inevitáveis. Esses males, necessários para o funcionamento da lei de educação geral, nunca deixarão de existir em nosso mundo. Eles representam uma das condições da vida terrestre. A matéria é o obstáculo útil; ela provoca o esforço e desenvolve a vontade, contribui para a elevação dos seres, impondo-lhes necessidades que os obrigam a trabalhar. E como poderíamos conhecer a alegria sem a dor?
Como poderíamos apreciar a luz sem a sombra? Como poderíamos saborear o bem adquirido, a satisfação alcançada, sem a privação? Eis por que as dificuldades são encontradas de todas as formas em nós e ao nosso redor.”
E o texto continua, mas deixo o link para quem quiser baixar parte da obra e continuar a leitura:
(http://www.espirito.org.br/portal/download/pdf/leon-denis-o-problema-do-ser.pdf)

A Leila deixou duas dúvidas que vou tentar responder. Não quero dar uma de professor, porque sou aluno. Assim, se cometer qualquer impropriedade, por favor corrijam-me.
A primeira dúvida: “ainda estou fazendo uma ligeira confusão entre princípio vital e fluido vital. Gostaria de um esclarecimento maior.”
Leila, pelo que posso depreender da leitura efetuada, não há diferença entre princípio vital e fluido vital. A julgar apenas pelo que lemos na Introdução de O Livro dos Espíritos, parece que são duas coisas diferentes, mas comparando o trecho: “o fluido vital é o mesmo que o fluido elétrico animalizado, designado, também, sob os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc.” com a resposta que os Espíritos deram a Kardec, na questão 65 da mesma obra, descobriremos que um e outro são a mesma substância, vejamos:
“O princípio vital reside em algum dos corpos que conhecemos? “Ele tem por fonte o fluido universal. É o que chamais fluido magnético, ou fluido elétrico animalizado. É o intermediário, o elo existente entre o Espírito e a matéria.”
Ou seja, tanto o fluido vital (na Introdução) quanto o princípio vital (na questão 65) são chamados de fluido elétrico animalizado e de fluido magnético, portanto, a mesma coisa. Eu contribuí para a confusão ao propor questões separadas para uma mesma coisa. Vamos nos aprofundar no estudo dos fluidos mais à frente.
Depois de algumas discussões por e-mail, cumpre acrescentar outros detalhes:
A Silvana nos enviou um texto com o título O Segredinho da Vida, que, a despeito de se dirigir aos estudantes espíritas mirins, oferece novo e esclarecedor ângulo à questão da diferença entre princípio vital e fluido vital:
  • a química compõe e recompõe os corpos inorgânicos (que não têm vida);
  • a mesma química decompõe os corpos orgânicos, porem jamais reconstituiu uma simples folha morta;
  • isso prova que no orgânico há alguma coisa que não existe no inorgânico;
  • é o princípio vital, o segredo da vida;
  • o princípio vital tem sua fonte no fluido cósmico;
  • o princípio vital é o mesmo para todos os seres;
  • ele se modifica segundo cada espécie;
  • o princípio vital dá o movimento e a atividade à matéria;
  • ele é o que distingue a matéria orgânica da materia inerte (pedra, água, etc.);
  • a vida é a união da matéria com o princípio vital;
  • os seres orgânicos contêm o princípio vital latente;
  • quando o organismo age sobre o princípio vital, é produzido o fluido vital e o ser se desenvolve;
  • por exemplo: a roseira - quando extraímos a sua muda, o talo está cheio de princípio vital, que veio da própria roseira; em contato com a terra, água e luz, o organismo age sobre o princípio vital e produz o fluido vital; a planta começa a se desenvolver;
  • outro exemplo: o ovo - nele existe um princípio vital latente; quando esse ovo é colocado para chocar, um age sobre o outro produzindo o fluido vital e começa o desenvolvimento do pintinho.
  • o mesmo acontece com os animais e o homem. O conjunto dos órgãos internos (que são o coração, pulmão, os rins, o fígado, o baço, o pâncreas) constitui um mecanismo que recebe o impulso do princípio vital; recebendo essa força, essses órgãos começam a trabalhar e produzem o fluido vital;
  • a causa da morte nos seres orgânicos é a exaustão, o esgotamento dos órgãos;
  • os órgãos trabalham em harmonia; quando algo destrói esse mecanismo, as funções acabam e o princípio vital fica impotente para pô-lo em movimento; a centelha divina, criadora da vida, nele não existe mais; quando falamos em morte, estamos falando da matéria, do corpo, porque o espírito não morre jamais; com a morte, a matéria sofre novas combinações e dá origem a outros seres: as bactérias, os micro-organismos; e quando eles fizerem seu papel na decomposição dessa matéria, também deixam de existir e voltam para a fonte de onde vieram: o fluido cósmico;
  • a quantidade de fluido vital varia segundo as espécies e não é constante em nenhuma delas; isto é, João pode ter mais fluido que Maria, joaquim menos que joão, e, um dia, João, que tinha bastante, pode vir a precisar;
  • o fluido vital pode se esgotar e deve sempre ser renovado; renova-se a quantidade de fluido vital por meio da alimentação, transfusão de sangue, doação de órgãos, orações, palavras de otimismo, manutenção do bom ânimo, evitando-se as tristezas profundas, depressões e, também, pelos passes que nada mais são que uma transmissão de fluidos de uma pessoa para a outra.
Outra questão proposta pela Leila: “podemos dizer que o conceito de alma utilizado no meio espírita engloba essas três definições?” Inicialmente, é importante considerar que alma e Espírito são uma e a mesma coisa. Utiliza-se o termo alma para indicar um Espírito encarnado (LE, q. 134).
Vejamos:
O conceito de alma adotado por Kardec: “ALMA é o ser imaterial e individual que em nós reside e sobrevive ao corpo.”
Alma vital: “Pode o corpo existir sem a alma? Pode; entretanto, desde que cessa a vida do corpo, a alma o abandona. Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo; enquanto que, depois dessa união se haver estabelecido, a morte do corpo rompe os laços que o prendem à alma e esta o abandona. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica.” (LE, q. 136 a)
Alma intelectual: “Que definição se pode dar dos Espíritos? “Pode dizer-se que os Espíritos (alma) são os seres inteligentes da criação. Povoam o Universo, fora do mundo material.” (LE, q. 76)
Alma espírita: “Qual a origem das qualidades morais, boas ou más, do homem? São as do Espírito (alma) nele encarnado. Quanto mais puro é esse Espírito, tanto mais propenso ao bem é o homem.” (LE, q. 361).
Espero que tenha ajudado.
Muita paz.

2 Comments:

Blogger Unknown said...

Excelente reflexão e abordagem muito clara e comparativa.

1:02 AM  
Blogger Unknown said...

Excelente material,me deu muitos esclarecimentos, é um Site digno de louvor!
Pergunto: por que nem todas as questões são comentadas? As questões 35 e 37 por exemplo. Deixou de ser editado as conclusões? Achei muito didático o material! Agradeço.

1:18 AM  

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